“O telefone tocou novamente...”

Era desconhecido, mas eu sabia quem era. Um rolo antigo. Rolo que me fez sofre, mas também, ver a vida de outro jeito. Na ligação dizia sentir saudades de “nós”, perguntando o porquê da minha distância, se eu tinha medo e por que. Dizia estar livre, sem o compromisso de antes. Queria estar comigo outra vez, queria sentir meu cheiro, me sentir, voltar a ouvir minha voz no seu ouvido e ver meu sorriso que tanto gosta.
A mim só coube responder, na intenção de por um fim em tudo isso:
“realmente tudo que vivemos foi bom, mas acabou. Eu me assustei com a proporção que as coisas tomaram, com a forma que você queria “me possuir”, mandar e me manipular. Foram momentos de paixão e muitos momentos de brigas, ciúmes sem necessidade, ligações à toda hora, intensa obsessão. Eu que sempre fui livre e nunca aceitei essa forma de paixão ou relacionamento me rendi e isso me faz o culpado de tudo, aceitei, não me impus, não pisei no freio desde o primeiro aviso de cuidado.
Mas enfim acordei e consegui por um ponto nisso tudo. Tudo foi perfeito, risos, beijos e carícias, noites inteiras. Mas acabou e queria que você entendesse isso. Hoje, graças ao que vivi com você, sou outra pessoa, independente, mais livre do que antes, com minhas loucuras, minhas paixões e vários rolos. [re]aprendi o valor de uma amizade, sabendo que nunca deixarei meus amigos por um telefonema, por uma “ordem”.
Nossa relação foi pura encenação e quando a cortina caiu, eu tive medo do que vi nos bastidores e hoje percebo que mesmo tendo fugido, mesmo sendo covarde, agi corretamente. Acho que você deve seguir sua vida e eu a minha e se elas se cruzarem que seja num momento oportuno para nos olharmos e sabermos que somos pessoas adultas para sorrir e seguir em frente.”
E foi assim que dei um ponto final em tudo.
Do outro lado da linha apenas o silêncio e uma breve resposta, “obrigado e seja feliz”.

...”fui atender e não era o meu amor” [amor só o meu, só o meu por mim mesmo]

Para os demais anônimos e não anônimos... "Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros.”
[Caio Fernando Abreu]