Essa semana no PAU...

Quando passei a me aceitar como homossexual me dei de presente uma viagem. Nela eu teria a chance de ser eu mesmo e aprender a conviver com os outros sem ter medo. Mas não foi bem assim... Logo de cara fui abordado por uma garota que questionou “você não é viado né?” minha resposta diante de uma pergunta tão direta e com ar de desprezo total foi apenas uma, “não!”.

Ela disse que não tinha nada contra, mas que lá na cidade dela as pessoas já estavam cansadas de tantos homossexuais. Senti o preconceito e o medo tomou conta de mim. Estava eu sozinho, numa cidade onde não conhecia ninguém e a única pessoa conhecida não gostaria de saber que eu era aquilo que ela mais odiava. Foi uma semana de muita tristeza, deixei de sair com ela e ficava preso no hotel, tinha medo ser descoberto e levar uma surra.

Faltavam poucos dias para ir embora, eu não havia conhecido a cidade como eu gostaria e resolvi que deveria “sair da toca”. Andava triste e pensando na minha vida, algo digno de novela mexicana. Foi então, que na praça da farroupilha presenciei uma cena que me deixou aos prantos, mas de alegria. Enquanto eu andava perdido pelo parque vi um casal de rapazes de mãos dadas. Eles não tinham medo e não se importavam com os olhares, mesmo que estes fossem de reprovação.

Minha reação foi a mais louca possível, eu segui o casal e quando os dois sentaram eu parei em frente a eles e comecei a chorar e rir. Era um misto de alegria com libertação. Os dois ficaram sem entender nada, pediram pra me acalmar, perguntaram se havia sido assaltado, se alguém me bateu...

Apenas olhei pros dois e agradeci. Agradeci pela coragem e pelo exemplo que foram pra mim. Não sei o nome deles e muito menos se eles estão juntos ainda, sei que aqueles dois que estavam de mãos dadas e felizes, são meus heróis, foram eles que me deram motivos para não temer e acreditar em mim.

Pois bem heróis anônimos para um blogueiro anônimo, muito justo. 

*Texto publicado na minha coluna semanal do PAU pra qualquer obra